A LEI DE DEUS
Digo a verdade: Enquanto existirem céus e terra, de forma alguma desaparecerá da Lei a menor
letra ou o menor traço, até que tudo se cumpra. (Mateus 5:18)

 

De maneira geral, a definição de lei, indica que ela é uma norma ou regra estabelecida com autoridade e tornada obrigatória para a manutenção da ordem em uma comunidade. No texto em questão, "a Lei", refere-se àquela dada por Deus ao povo de Israel, através de Moisés, quando estavam acampados em frente o monte Sinai, após saírem do Egito. Através dela Deus iniciou um processo de tornar-se conhecido ao povo revelando Sua vontade em diversas áreas da vida pessoal, social e espiritual. Por isso, obedecer a Lei, no Antigo Testamento, significava fazer a vontade de Deus.

 

A intenção original de Deus não era a lei, mas a graça, que nos foi dada desde os tempos eternos (2º Timóteo 1:9), antes da criação do mundo, para que por meio dela tivéssemos vida e fossemos santos e irrepreensíveis diante Dele (Efésios 1:4). Por que então existe a lei e qual o seu propósito? Gálatas 3:19 Qual era então o propósito da Lei? Foi acrescentada por causa das transgressões, até que viesse o Descendente a quem se referia a promessa, e foi promulgada por meio de anjos, pela mão de um mediador.

 

Vejam bem irmãos, após o pecado de Adão a humanidade ficou arruinada, a imagem de Deus no ser humano ficou desfigurada e por muitos anos os homens viveram sobre a terra apartados de Deus.


Sua maldade era tanta que Deus decidiu exterminá-los da face da terra (Gênesis 6:5-7). Se não fosse por Noé, um homem que andava com Deus, a raça humana terminaria ali. O amor de Deus falou mais alto, e Ele resolveu poupá-lo da destruição que viria sobre a terra com o dilúvio e recomeçar sua criação. Toda a humanidade foi destruída exceto Noé e os de sua família. Porém, sabemos que eles também traziam em sua natureza a semente do pecado e como a terra foi repovoada a partir deles, a raiz do problema não foi removida e perdura até os dias de hoje.

 

Deus sabia que era impossível para o homem livra-se do pecado. Por isso Ele tinha um plano eterno, e começou então a desvendá-lo para resgatar a humanidade. Ele escolheu um homem chamado Abrão, habitante da cidade de Ur dos caldeus, separou-o para Si, o abençoou e prometeu que através dele, seriam abençoadas todas as famílias da terra.

 

Deus começou a revelar-se a ele mais e mais intensamente e também lhe deu um filho, Isaac, que foi pai de Jacó, também chamado Israel e dessa família formou uma nação, a fim de cumprir sua promessa (Gênesis 12:1-3). Eles trariam ao mundo Seu filho, por meio do qual revelaria Sua graça. Com o passar dos tempos, Deus resgatou seu povo no Egito, libertou-os da escravidão com grande poder (Êxodo 14:21-22) para leva-los à terra de Canaã, que prometera a Abraão (Êxodo 6:2-5). Enquanto caminhavam pelo deserto, rumo à terra prometida, chegaram ao monte Sinai (Êxodo 19:1-6) e Deus, através de Moisés, firmou uma aliança com o povo entregando-lhes diversas leis que deveriam regulamentar seu relacionamento com Ele e entre si. Estas leis estão registradas nos livros de Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio e são conhecidas como a "lei de Moisés" ou a "lei de Deus", da qual fazem parte os "Dez Mandamentos".


Podemos dizer que a missão de Moisés era libertar os israelitas para que eles se tornassem uma luz para as nações vizinhas. Moisés começou liderando os israelitas (judeus) a partir da escravidão no Egito com uma missão de resgate, porém, o objetivo de Moisés não era apenas liderar os israelitas resgatando-os da escravidão do Egito, mas também guia-los para um novo estilo de vida, o estilo de uma nação que deveria viver conforme a vontade de Deus, e a vontade de Deus estava impressa nas leis que o Senhor dá ao seu povo através do seu grande legislador, Moisés.

 

Com relação as “Leis de Deus”, muitas pessoas tratam elas da mesma maneira. Eles pensam que Deus, após dar a sua Lei, quis dizer: “Escolha e obedeçam algumas?”. Muitos pensam desta forma porque imaginam Deus pesando os “bons atos” contra os “maus atos”. Se nossos méritos positivos forem mais pesados que nossas más imperfeições, então esperamos que isto seja o suficiente para merecer o favor de Deus e ganhar uma entrada para o céu. Por esta mesma razão muitos tentam merecer o mérito religioso através de atividades religiosas como ir à igreja, orar, jejuar e dar
dinheiro aos pobres, etc. Será que estes atos esperançosamente compensam as vezes que desobedecemos uma das leis do Senhor?

 

Em tese, as Leis de Deus, foram dadas para nos ajudar a identificar nosso problema. Vejamos um exemplo ilustrativo: Suponha que você tenha caído no chão e que sua perna direita está doendo – contudo, você não tem certeza se quebrou ou não. Você não sabe se a perna vai melhorar ou se precisa colocar gesso. Então você tira um raio X e a imagem do raio X revela que a sua perna realmente está quebrada. PERGUNTAS: O raio X cura a sua perna? A sua perna melhora em razão do raio X? Não, sua perna continua quebrada, mas agora você sabe que precisa colocar gesso
para que ela seja curada. O raio X não resolveu o problema, mas antes expôs o problema de forma que você tenha um tratamento adequado. Assim também era a Lei. A lei sempre diz o que fazer e o que não fazer, atuando apenas nas coisas exteriores, sem atingir a natureza humana pecadora. Ela não elimina a raiz do pecado nem muda a natureza humana, por isso não satisfaz plenamente a justiça de Deus, como está escrito: "ninguém será justificado pelas obras da lei" (Romanos 3:20).

 

A lei diz: não minta, não roube, não mate, não adultere, etc., tratando apenas com o efeito e não com a causa. A lei diz: "não peque", mas não concede poder para não pecar. A lei evidencia o que o ser humano é, mas não concede poder para ele ser diferente. Ele, por si mesmo, não pode vencer o pecado e satisfazer a justiça de Deus. O ser humano precisa de um milagre interior, algo que substitua seu coração arruinado por outro, precisa de uma mente renovada, precisa ser perdoado de seus pecados e, mais ainda, precisa ser livre do pecado e viver baseado em outro princípio de
vida.

 

Lá do céu o Senhor Deus olha para a humanidade a fim de ver se existe alguém que tenha juízo, se existe uma só pessoa que o adore. Mas todos se desviaram do caminho certo e são igualmente corruptos. Não há mais ninguém que faça o bem, não há nem mesmo uma só pessoa. (Salmos 14:2-3). Todos nós temos este problema de corrupção interior do pecado. É muito sério o que Deus diz de nossas “boas obras” que todos nós nos tornamos impuros, todas as nossas boas ações são como trapos sujos. Somos como folhas secas; e os nossos pecados, como uma ventania, nos carregam
para longe. (Isaías 64:6). Nossos méritos de retidão em observâncias religiosas ou de auxílio ao próximo são apenas “trapos sujos” quando pesados contra nossos pecados.


Na Lei de Deus, havia mandamentos morais e cerimoniais. A lei moral estabelecia um padrão de conduta que mostrava como o homem deveria agir em suas relações interpessoais e com Deus. A lei cerimonial era constituída de um conjunto de normas e regulamentos para o culto a Deus, adoração, perdão dos pecados e gratidão. Porém, conforme o grande Teólogo João Calvino, as Escrituras nos mostram que Deus pretendia que sua lei funcionasse de três modos para benefício da Igreja.

 

A primeira função da lei é a de ser espelho que reflete para nós a perfeita justiça de Deus e a nossa própria pecaminosidade e deficiência. Como escreveu Agostinho: "a lei nos obriga a saber como pedir auxílio da graça, quando tentamos cumprir suas exigências e nos cansamos na nossa fraqueza sob ela". A lei foi dada para nos transmitir o conhecimento do pecado (Romanos 3:20 - Portanto, ninguém será declarado justo diante dele baseando-se na obediência à lei, pois é mediante a lei que nos tornamos plenamente conscientes do pecado), mostrar a nossa necessidade de perdão e o perigo da condenação e levar-nos a Cristo em arrependimento e fé (Gálatas 3:19-24).

 

A segunda função da lei, ou seja, o uso civil, é o de refrear o mal. Ainda que a lei não possa mudar o coração ela pode, até certo ponto, inibir as desordens com ameaça de julgamento, especialmente quando apoiada num código civil, que aplica punição a ofensas comprovadas (Romanos 13:3-4 -Pois os governantes não devem ser temidos, a não ser pelos que praticam o mal. Você quer viver livre do medo da autoridade? Pratique o bem, e ela o enaltecerá. Pois é serva de Deus para o seu bem. Mas se você praticar o mal, tenha medo, pois ela não porta a espada sem motivo. É serva de
Deus, agente da justiça para punir quem pratica o mal). Desse modo, ela assegura a ordem civil e serve para proteger os retos dos injustos.


A terceira função é a de guiar o regenerado às boas obras que Deus planejou para ele (Efésios 2:10 - Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas). A lei diz aos filhos de Deus que agradem ao seu Pai celestial. Ela pode ser chamada de código da família. Jesus Cristo estava falando deste terceiro uso da lei, quando disse que os que se tornam seus discípulos devem ser ensinados a fazer tudo o que ele mandou (Mateus 28:19-20 - Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do
Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; Ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos. Amém), e que a obediência aos seus mandamentos provará a realidade do amor que seus discípulos têm por ele (João 14:15 - Se vocês me amam, obedecerão aos meus mandamentos). Aqui está o principal entendimento da Lei: O cristão está livre da lei como sistema de salvação, por ter Jesus Cristo morrido em seu lugar (Jesus pagou pelos nossos pecados), mas em contrapartida o cristão está
sujeito à lei de Deus, como regra de sua vida.

 

Com relação a Salvação - o remédio que Deus nos forneceu para os nossos pecados é dado pelo nosso  rrependimento, é o dom do perdão de pecados através da morte e ressurreição de Jesus Cristo. Este Dom da vida é simplesmente nos dado se confiarmos ou se tivermos fé na obra de Cristo. (Galátas 2:16 - Sabendo que o homem não é justificado pelas obras da lei, mas pela fé em Jesus Cristo, temos também crido em Jesus Cristo, para sermos justificados pela fé em Cristo, e não pelas obras da lei; porquanto pelas obras da lei nenhuma carne será justificada).


Muitas pessoas me perguntam: “O que seria o arrependimento? Eu tenho que me arrepender de que?” - O arrependimento simplesmente significa “mudança de mente ou mudança de visão”. O arrependimento envolve uma mudança para longe do pecado e leva a pessoa em direção a Deus.

 

Conforme a Bíblia explica: Portanto, arrependam-se e voltem para Deus, a fim de que ele perdoe os pecados de vocês (Atos 3:19).


A promessa para todas as pessoas é que se nos arrependermos, e nos voltarmos para Deus, nossos pecados não serão contados contra nós e receberemos a Cristo Jesus, pois Ele é fiel e justo para nos purificar dos nossos pecados e nos dar a Vida Eterna.

 

Pr. Dr. Gervásio Melquiades Gomes