ESTER, UM EXEMPLO DE POLÍTICA PARA O POVO DE DEUS

 

O Livro de Ester é um dos livros históricos do Antigo Testamento da Bíblia, vem depois do Livro de Neemias e antes do Livro de Jó, nas Bíblias protestantes. Esse livro narra a história de Ester, Mardoqueu, Hamã e Assuero. Na Bíblia hebraica ele está organizado dentro do grupo chamado Megilote, cuja composição consiste em cinco livros. São eles: Rute, Cantares de Salomão, Eclesiastes, Lamentações e Ester. Ester era uma jovem judia que estava entre os deportados, porém, mais tarde após o divórcio do rei, tornou-se imperatriz da Pérsia, ao se casar com o rei Assuero (que tem sido identificado como Xerxes I).

 

Os acontecimentos narrados nesse livro começam por volta do ano 483 a.C., no tempo da deposição da rainha Vasti, no terceiro ano do reinado do rei Assuero. A história dessa rainha ocorreu no palácio de Susã. Ester viveu um tempo de grande perigo, pois seu povo, os judeus estavam sob o exílio que lhe fora imposto pelos babilônios em 587 a.C., após os babilônios destruírem a cidade de Jerusalém e o templo construído pelo rei Salomão. Mais tarde os babilônios foram derrotados pelos persas em 539 a.C., liderados por Ciro, o grande.


Ester e seu primo e tutor(pai de criação) Mardoqueu, não retornaram para Judá capital Jerusalém junto com os exilados, quando Ciro II, avô de Xerxes, ordenou e encorajou os cativos a retornarem.

 

Para entendermos melhor este assunto, vamos fazer uma breve análise deste livro, pois isso nos ajudará a nos situarmos melhor nesse artigo. Logo após a deposição da Rainha Vasti, Ester é escolhida a nova rainha, após um concurso de beleza. Mardoqueu quando estava sentado à porta do palácio real, descobre uma conspiração contra o rei. Os culpados foram julgados e condenados à morte. No décimo segundo ano do rei, Hamã, da tribo de amaleque, busca vingar-se dos judeus, porque Mardoqueu se recusou a prostrar-se diante dele (Ester 5:9). Vejo que essa recusa era uma obediência silenciosa ao primeiro mandamento e também, um demonstração de desprezo completo por Hamã, não reconhecendo a sua presença e autoridade. Hamã é promovido e mais tarde, o rei, incentivado pela mentira de Hamã, manda publicar um decreto, com ordem de eliminar, matar e exterminar todos os judeus, jovens, crianças, idosos, mulheres, e também, com ordem de saquear os seus bens, enfim, a promoção de Hamã colocou todo opovo Judeu em risco.

 

Mardoqueu se veste de luto (roupas de saco e cinza) e começa a chorar alto e a clamar ao Senhor. Em todas as províncias onde essa ordem chegava, os judeus presentes também choravam. Ester envia um emissário para saber o que estava acontecendo. Mardoqueu explica ao emissário de Ester os últimos  contecimentos e pede que ela compareça perante o rei para rogar por misericórdia.


Mas existia uma ordem de que ela não podia aproximar-se do rei sem ser chamada, pois poderia ser condenada a morte.

 

Quando o emissário de Ester volta da casa de Mardoqueu, este, mandou que respondesse a Ester: “… Quem sabe não foi para um momento como este que você chegou a posição de rainha ?”.
(Ester 4:14). E Ester envia a seguinte resposta: “Vai e reune os judeus que estão em Susã, e jejuai por mim. Não comais e não bebais por três dias, nem de noite nem de dia; e eu e as minhas criadas também jejuaremos como vós. Se for preciso morrer, morrerei. E mardoqueu fez tudo o que Ester havia ordenado”. Nesse momento, Ester decide enfrentar o perigo pessoal por amor ao seu povo (Ester 4:15-17).

 

A soberania de Deus opera em toda a criação, mas especialmente opera no meio de seu povo, que coloca sua confiança nele. Assim, diante de um grande problema a convicção de Mardoqueu era que Deus, havia levantado Ester como instrumento para a salvação do seu povo. Ester antes era apenas uma bela rainha, agora tornou-se uma judia preocupada com o destino do seu povo.


Antes era uma mulher em silêncio e submissa a seu destino, agora ela era uma intercessora apaixonada, disposta a identificar-se com o seu povo.

 

Nestes tempos difíceis em que vivemos, quando o julgamento de Deus se manifesta em nossa cultura, somos chamados a crer que Deus tem levantado instrumentos de sua providência para testemunho de sua justiça e misericórdia. Precisamos aprender a sermos servos, confiantes na ação divina, firmados em Deus, para agir como agentes de transformação em nossa sociedade.

 

“Se for preciso morrer, morrerei” (Ester 4:16). Essas palavras de Ester indicam uma grande confiança e uma entrega total a vontade divina. Muitos servos de Deus no passado, também, passaram por situações como essa, situações de grande ameaça. Essas palavras também, nos mostram que Deus tem um propósito para cada um de nós nessa vida. Deus não precisa de nós mas ele escolheu permitir que participássemos da sua obra.

 

Ester entendia que sua função pública existia para a glória de Deus e para o benefício do seu povo e não para proveito próprio. Certa vez, o monge agostiniano Martinho Lutero disse: “Ainda que o seu trabalho seja o de um lavador de pratos ou de um menino que cuida de um estábulo, a sua vocação é divinamente indicada, tão sagrada quanto a de qualquer pastor ou oficial da igreja”.


Ester também entendeu que Deus em sua santa providência, a levantou para defender seu povo como uma rainha que estava no centro das decisões políticas.

 

Acredito que Deus tem dado diferentes vocações para o seu povo. Aqueles que são chamados para exercer algum tipo de influência em grandes instituições e autarquias, devem glorificar a Deus com seu chamado. Lembre-se, Deus nos levantou para ser sal da terra e luz do mundo (Mateus 5:13-16).

 

PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO LIVRO DE ESTER

 

Aprendemos que em determinados momentos o povo de Deus sofre intensas perseguições de seus inimigos, porém, Deus preserva o seu povo durante os períodos difíceis.


Também aprendemos que, como povo escolhido do Senhor, devemos exaltá-lo por todas as suas maravilhas. Devemos permanecer fiéis a Deus esperando sua provisão a nosso favor, confiando que
Ele derrotará definitivamente todos aqueles que se levantam contra o seu povo.

 

A SALVAÇÃO DOS JUDEUS

 

Ester apresenta-se diante do rei, correndo risco de vida (Ester 5:1-8). Em seus sonhos de glória pessoal, Hamã revelou o que realmente desejava: aclamação, dinheiro, adulação públicas e o extermínio dos judeus; no fim, porém, foi executado (Ester 6:14-7:10). Depois veio a celebração, Deus agiu preservando a comunidade de seu povo, esse dia festivo passou a ser chamado Purim, por causa do sorteio que Hamã fez para determinar o dia que seria proposto o extermínio dos judeus no Imprério Persa.

 

O que nós aprendemos com essa história: 
1) Que um poder maior estava em ação naquelas circunstâncias e neste contexto torna-se claro que Deus é o personagem principal da obra. 
2) Que somos consolados com a confiança de que mesmo quando não percebemos a presença de Deus, Ele está trabalhando em favor do seu povo. 
3) Deus transformou um símbolo do mal em um símbolo de sua providência, para ser festejado para sempre (Ester 9:26). 
4) Nem Ester nem Mardoqueu escolheram o posto que ocupavam, mas foi Deus que os colocou lá. Eles foram tementes a Deus, que com sabedoria e modéstia lutaram pelo direito e pela justiça de seu povo. 
5) Muitas vezes pensamos que precisamos forjar nossos próprios caminhos sem o apoio de ninguém. Ester era a rainha; ela poderia ter decidido usar apenas seus próprios recursos para tentar salvar o
povo judeu. Mas ela escolheu, em vez disso, alcançar todas as pessoas da nação judaica, e implorar a elas que orassem por ela. Ela precisava de suas orações. Ela sabia em seu coração que, finalmente,
nos levantamos e caímos juntos. Ela teve a humildade de poder dizer: preciso da sua ajuda. Por favor, lute ao meu lado. 
6) Quando Ester arriscou sua vida e caminhou em direção ao rei para implorar por sua nação, ela sentiu a presença divina começar a deixá-la. Ela se sentia fraca e com medo, como se não pudesse continuar. Mas fé não significa que sempre nos sentimos fortes e corajosos. Fé significa que persistimos mesmo quando estamos exaustos e com medo. Ester não desistiu quando sentiu que não poderia continuar. Ela buscou forças dentro de si mesma até encontrar uma maneira de tornar o impossível possível. Ela continuou seguindo em frente até chegar ao rei.

 

Por causa da coragem de Ester e Mardoqueu, o povo da aliança foi preservado, porém, o que garantiu a sobrevivência dessa comunidade de Judeus no império Persa, não foi a pureza espiritual dessa comunidade, tampouco, não foi a coragem de Ester e Mardoqueu, foi sim a graça de Deus. Além de tudo, através da salvação desse povo, viria o nosso salvador Jesus Cristo, que morreu e ressuscitou por causa dos nossos pecados. E por meio do salvador a Igreja Cristã veio a existir.

 

O CRISTÃO E A POLÍTICA – REFLEXÃO E CONSELHOS

 

Vivemos um momento de descrédito nas instituições democráticas e a antipolítica aparece como uma solução ética para vivermos moralmente. Mas isso tem produzido uma apatia que inibe as pessoas de atuarem e participarem mais ativamente da vida social, sendo protagonistas em relação aos seus próprios direitos. Entender e se apoderar dos mecanismos políticos e institucionais do país é importante, e usá-los a nosso favor não deveria ser visto como um dever, mas como um direito.

 

Mas ser e agir politicamente não se restringe ao voto ou a participar de estruturas partidárias e governamentais. Fazer política é buscar compreender os problemas que nos afetam direta e
indiretamente, seja no âmbito pessoal, coletivo ou institucional; encontrar e aplicar soluções, posicionar-se e atuar. Somos todos seres políticos, todas as nossas ações são políticas. Nossas
atitudes expressam e comunicam valores, partilhamos cotidianamente da construção de uma cultura social de respeito ou não aos direitos humanos, portanto, baseado no livro de Ester:
1) Aquele que pretende servir na esfera pública, deve ter uma vida moldada pelo conhecimento Biblíco, firmada na prática da oração; 
2) O político cristão deve ter capacidade e coragem para criticar a cultura, questionando suas motivações, mensagens e propostas; 
3) Todos os que trabalham na esfera pública, devem trabalhar para criar projetos de lei que estejam de acordo com a Palavra de Deus; 
4) O político cristão, deve se levantar contra leis e situações que contrariam a fé cristã; 
5) O político cristão deve trabalhar em prol da mobilização da população visando as reivindicações justas; 
6) O cristão que almeja servir na esfera pública deve trabalhar para moldar a opinião pública com o objetivo de aumentar o alcance da visão cristã; e 
7) O político cristão de hoje deve possuir seus valores baseados na Palavra de Deus, e esses valores devem constituir o alicerce sobre as suas vidas. Influenciando a conduta no lar, no trabalho e na sociedade, norteando seus alvos e seus propósitos.

 

O último capítulo desse livro, fala da grandeza de Mardoqueu, que chegou a ser o segundo homem mais importante do império, talvez um primeiro ministro, ocupando um cargo público de grande importância. Ele foi muito estimado pelos seus irmãos, procurando o bem estar do seu povo, promovendo a paz, a segurança e a justiça.

 

Pr. Dr. Gervásio Melquiades Gomes