Os Sofrimentos de Jesus Pela Humanidade
Isaias 53:4-5

 

O capítulo 53 do livro do profeta Isaías descreve uma das mais importantes passagens bíblicas, onde o autor faz um relato sobre a crucificação de Cristo, bem como, seu estado físico ante este ato de forma quase poética.

 

Nessa passagem encontramos o sofrimento do Servo do Senhor, conforme nos relata a profecia: “Verdadeiramente, ele tomou sobre si as nossas enfermidades e carregou as nossas dores; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus e oprimido. Mas ele foi ferido por causa das nossas transgressões e esmagado por causa das nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados” (Isaías 53:4-5).

 

Para entender o texto acima, precisamos compreender que o pecado da humanidade(desobedência a Deus) trouxe sobre toda a natureza um estado de maldição e juízo(Genesis 3:17-19), tendo a partir desse momento, a humanidade ter que arcar com as consequências de suas escolhas.

 

Analisando o que a Bíblia quer dizer quando diz que as pessoas são criadas à imagem e semelhança de Deus, isto significa que o homem é parecido com Deus ao passo de que, diferentemente de qualquer outra criatura, ele é portador de Sua imagem (Gênesis 1:26), de modo que sua plena constituição, material e imaterial  corpo/alma/espírito), representa a Deus. O homem é uma criatura racional, pessoal, criativa e moral, com quem o próprio Deus compartilha seus atributos comunicáveis. Ele possui vida proveniente de Deus e potencial para se relacionar com Ele. 

 

Deus criou o homem de forma perfeita, irrepreensível, com caráter puro. Porém, o pecado distorceu e maculou essa imagem, deformando o seu caráter. Isto explica porque a vida humana é preciosa para Deus. Contudo, a Bíblia prossegue, a partir da criação, a explicar um problema sério.

 

O problema pode ser visto a partir deste Salmo “...não há ninguém que faça o bem, não há nem um sequer” (Salmos 14:2-3). Este salmo nos diz que “todos” nós nos “tornamos corrompidos”. Apesar de termos sido criados à imagem de Deus, o pecado desfigurou a imagem de Deus em nós. A corrupção é vista em uma escolha de viver de maneira independente de Deus (“todos se extraviaram” de “buscar a Deus”) e também de “não fazer o bem”.

 

Portanto, quando o profeta Isaias fala do sofrimento e da morte de Jesus, no capítulo 53 do seu livro, ele deixa bem claro que isso não foi um acidente ou um infortúnio. Foi explicitamente “a vontade de Deus”. Mas por quê? Assim como cordeiros no sistema sacrificial mosaico(época de Moisés) eram ofertas pelos pecados de maneira que a pessoa oferecendo o sacrifício era tida como sem culpa, ou seja, perdoada, aqui a “vida” de Jesus também foi e continua sendo uma “oferta pelo pecado”.

 

O texto de Isaias 53:4-5, refere-se a Jesus Cristo, porém, quando interpretado sem conhecimento, nos faz questionar com algumas perguntas as quais nos deparamos muito cedo na vida cristã: “Se Deus é amor, por que sofremos?”, “Se esse texto em particular, fala que Cristo carregou sobre si as nossas enfermidades, então por que ficamos doentes?”, “Se esse texto fala que Jesus carregou as nossas dores, por que sentimos dor?”, “A que tipo de cura este texto está está se referindo, a física ou a espiritual?”, “Esse texto, fala do passado, presente ou do futuro?”.

 

Todas essas perguntas, nos reflete a um grande questionamento: Como harmonizar isto com o fato de existirem doenças hoje? Estes versículos que estamos meditando, devem ser entendidos à luz da própria Bíblia, portanto, para entender o significado de textos bíblicos, devemos começar com o próprio conteúdo e o contexto (são os textos que vem antes e depois do texto meditado), para depois considerar outras passagens em outros livros da Bíblia que esclarecem o sentido.

 

O primeiro sentido desse texto é que o Messias(Jesus) suportaria as consequências de nosso pecado (enfermidades e dores), bem como o pecado em si (transgressões e iniquidades). Podemos afirmar que o sofrimento de Jesus por nós trouxe cura. Tudo isso é obra de Deus. Note que estes versículos falam do sofrimento de Jesus quando Ele veio
ao mundo para nos salvar. Ele foi oprimido, castigado e morto. Os versículos abaixo, falam principalmente do sacrifício que Jesus fez pelos nossos pecados: “Quando der ele a sua alma como oferta pelo pecado...” (53:10); “...o meu Servo, o Justo, com o seu conhecimento, justificará a muitos, porque as iniqüidades deles levará sobre si” (53:11); “...contudo, levou sobre si o pecado de muitos e pelos transgressores intercedeu” (53:12).

 

Como já mencionamos, os sofrimentos do Messias deviam-se ao pecado, mas não a seu próprio pecado, porque Ele nunca pecou . Nesses sofrimentos havia a retribuição, administrada pela mão divina, mas contra os nossos pecados. Ele foi ferido de Deus e afligido, e carregou nossas tristezas, e assim fez expiação universal. Mesmo assim, são poucas as pessoas que tem conhecimento disso e muito menos ainda, são as que se importam com isso.

 

Devemos lembrar que o sofrimento entrou no mundo por causa do pecado (Gênesis 3:17-19), e até a morte física se tornou uma conseqüência secundária da transgressão do ser humano(1º Coríntios 15:21-22).

 

Podemos perceber que os versículos 4 e 5, do capítulo 53 do livro de Isaías não são em si uma garantia de Deus de que no mundo não existiriam mais doenças ou morte(Romanos 6:23), pelo fato de Jesus ter vindo e morrido por nós na cruz. A expressão “tomou sobre si as nossas enfermidades” demonstra em Sua humanidade que Ele era capaz de expressar simpatia e realmente sentir o que sentimos e se compadecer de nós.

 

Os textos também aludem ao reino de Deus, à obra que o Messias prometido faria à Israel, referindo-se ao ato de Jesus curar as pessoas. Jesus suportou as nossas dores e também curou muitas enfermidades. Cada cura que Jesus executava, revelava que o reino Messiânico havia sido inaugurado e aponta para o dia, na consumação dos
séculos, quando o mal será erradicado de uma vez por todas.

 

Nos momentos de cura física citado nos evangelhos, observamos que Jesus utiliza essas curas como evidências do seu papel como o verdadeiro Messias e Salvador. Jesus curava as enfermidades físicas, para mostrar um sinal da sua capacidade de curar  também a nossa doença espiritual, ou seja, a cura física estava ligada a cura espiritual: “Ora, para que saibais que o Filho do Homem tem sobre a terra autoridade para perdoar pecados – disse ao paralítico: Eu te mando: Levanta-te, toma o teu leito e vai para tua casa” (Marcos 2:10-11).

 

Fazendo uma aplicação do texto à nossa vida, podemos dizer que Jesus tomou sobre si as nossas enfermidades no sentido de que Ele suportou a dor e o sofrimento da morte em nosso lugar para nos dar vida eterna.

 

Também podemos aplicar ao fato de Cristo curar as nossas enfermidades (toda vez que somos curados de uma doença é Jesus quem o faz). Como já foi dito em Gênesis 3:17- 19, a doença e a morte são efeitos do pecado. Esses efeitos permanecerão até o dia em que Jesus voltar, pois em sua volta Ele irá cumprir outra etapa da salvação: a aniquilação de todo mal. O mundo precisa ver os resultados do pecado para que todos tenham evidência de que o mal não presta, que o mal precisa ser erradicado e que só Jesus consegue fazer isso.

 

A morte de Cristo na cruz não nos livra da morte física neste mundo, mas nos livra da morte espiritual, ou seja, da morte eterna: “e todo o que vive e crê em mim não morrerá, eternamente. Crês isto?” (João 11:26). Vale a pena confiar no poder de Deus; Ele prometeu que um dia nos levará com Ele para o céu, onde não haverá mais morte ou doença (João 14:1-3; Apocalipse 21:4).

 

As revelações de Deus passadas ao profeta Isaías, principalmente no capítulo 53 do seu livro, mostra todo o sofrimento do Messias que viria ao mundo com a missão de morrer em uma cruz, como o pior dos homens, para pagar pelos pecados da humanidade. Este homem, por conta do seu sacrifício vicário, se tornou a “ponte” que liga o homem a Deus, a porta que leva o pecador ao Santíssimo Lugar. E nisto é constituída a vitória de Cristo (Isaias 53:11). 

 

Cabe nesse momento uma pequena reflexão: Nós, seres humanos, muitas vezes somos enganados e marcados por uma postura interior equivocada. Nós pensamos, agimos e fazemos de conta que a doença é pior do que o pecado. Em geral, a enfermidade é considerada o que existe de pior. É por isso que desejamos sempre “saúde!” uns aos outros ou dizemos que “o mais importante é a saúde”. Mas existe algo que é muito pior do que toda e qualquer doença: o pecado.

É o pecado que nos mata, não a doença. O pecado é a causa de todas as doenças, o pecado é a raiz de todo sofrimento e da morte. É terrível sofrer e morrer de alguma doença, mas imensuravelmente pior é morrer em pecado.

 

Os sofrimentos de Jesus relatado no livro do profeta Isaías 53:4-5, não é uma promessa de cura para as enfermidades físicas, é muito mais do que isso! É uma promessa da cura do nosso principal problema – o pecado!

 

Pr. Dr. Gervásio Melquiades Gomes